terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Hannah Arendt: A Banalidade do Mal

Hannah Arendt.

Hannah Arendt: E a banalidade do mal.





Foi a pensadora alemã, de cidadania norte-americana, que cunhou a frase: "A banalidade do mal", ao se referir à forma como a violência contínua e sistematizada, vai adormecendo ou anestesiando as pessoas que terminam por considerar comum atos contra a vida e a dignidade humana. Arendt cunhou a frase dentro do contexto da 2ª Guerra mundial e as atrocidades de Hitler. Ela mesmo vítima ( ao ser presa e ter cassada sua cidadania por ser judia e de esquerda, só escapando da morte por ter conseguido exilar-se nos EUA).





Cito o fato pelo choque que hoje, logo cedo, senti quando tentava sacar dinheiro na Caixa Econômica Federal, Campus Universitário, e na conversa com outros professores e funcionários, uma senhora, com aspecto deprimido, contava, na maior normalidade, o assalto que seu genro fora vítima no primeiro dia do ano e, ao reagir ao assalto, fora baleado na coluna e ficado paralítico em plena Praia do Meio, Natal. A notícia dada chocou, mas o que mais me abalou foi a resignação com que a senhora narrou o drama do marido da sua filha. Fatos como estes estão sendo corriqueiros. Vemos, diariamente nos noticiários de televisão a forma resignada como as pessoas falam dos maridos, filhos, genros, familiares e amigos enfim, assassinados pela verdadeira guerra urbana que toma conta do país. Não é só São Paulo e Rio de Janeiro. Cada vez mais nota-se a violência aumentando em estados como o Rio Gande do Sul, outrora muito calmo. Agora temos uma greve da polícia no estado do Ceará e as notícias dando conta da paralização de todas as atividades, comércio, escolas, etc., com a população temendo os famosos arrastões. Não se protesta, não se chora, nem em velório.






Outro fato que nos chama atenção é a falta de lágrimas, por parte de familiares e amigos, em relação aos mortos. Velório virou ponto de encontro. É chocante. Sobre isto Glauber Rocha fez um documentário sobre o velório do Pintor Di Cavalcanti que, de tão chocante, a família do pintor proibiu a divulgação. Depois a propria família do cineasta probiu o documentário, feito pelo cineasta Sílvio Tendler, sobre o velório de Galuber, pelos mesmos motivos. Principalmente pelo discurso magistral de Darcy Ribeiro, saudando o morto.




Pergunta-se: que sociedade é esta que, facilmente, se rende a tais circunstâncias? Onde estão as nossas lideranças? Os nossos políticos chegaram a um nível tal de descrença que não ousam nenhuma manifestação de protesto e o cinismo dos governantes apavora.





O Rio Grande do Norte, especialmente Mossoró, registrou, em 2011, 160 assassinatos. Grande parte originados na droga, especialmente no crack. Não se pode pedir, de um policial, que nos defenda ganhando os salários miseráveis que recebem mensalmente. O pior é que a polícia sabe dos roubos e da corrupção que afetam nossas instituições.





O Poder Judiciário, enrolados nas suas becas, capas e togas, desde o STF (vide as denúncias sobre benefícios, sem sempre justificados, exigidos pelos nossos juízes), até os juizados de pequenas causas, demonstram uma apatia e uma letargia que desespera o cidadão comum.





Por quê tanta dificuldade em definir logo a Lei da "Ficha Limpa"? A quem ou a que o Judiciário teme? E o "mensalão", qual a causa da demora? Por estas e por outras, pelo vazio e/ou omissão do Estado, cada vez mais vemos trincar, abrindo-se, o "ovo da serpente."








Ronald de Góes. Em 03 de janeiro de 2012.

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